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Erg Chigaga – expedição ao deserto

Erg Chigaga – expedição ao deserto

Marrocos

Você tem curiosidade de saber como é visitar o deserto do Saara? Acompanhe essa aventura pelo Erg Chigaga, o deserto mais inóspito do Marrocos.

Temos a imagem romântica de que o deserto é composto apenas de areia e dunas. De fato, há muitas dunas encapsuladas nos ergs, mas esquecemos que sua maior parte é uma vastidão rochosa com muitas paisagens diferentes e até montanhas!

O que é um erg?

Em português chamamos de mares de areia essas porções cobertas por dunas. Do Egito à Mauritânia há vários ergs pelo Saara. No Marrocos há dois grandes mares de areia conhecidos pelos turistas: o Erg Chigaga e o Erg Chebbi; além de outros ainda não explorados.

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O roteiro

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Repare no mapa que o ponto inicial e final dessa aventura são próximos um do outro. Estava em Ait BenHaddou e seguia para Skoura. Contudo, queria de qualquer jeito explorar o erg Chigaga, o maior e menos explorado dos desertos marroquinos.

Eu buscava mais que apenas uma viagem contemplativa; eu queria interagir com locais e ver como eles moravam. Queria viver um momento National Geographic.

Percebi que precisava de um roteiro personalizado. Foi aí que achei a Emily e o Yahya do Wild Morocco e tudo mudou.

Consegui traçar com eles o roteiro perfeito que se encaixou com a minha vontade e superou as expectativas!

A aventura

Yahya nos buscou em Ait BenHaddou, onde havíamos passado duas noites incríveis.

Leia também Ait BenHaddou – um tesouro marroquino e Ait BenHaddou – onde se hospedar

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Da linda cidadela na colina, partimos para em direção ao deserto. A transição de cenários é maravilhosa! As estradas marroquinas são sinuosas e cheias de curvas.

Viver a Viagem - Erg Chigaga - Marrocos - Alexandre Disaro - 04Viver a Viagem - Erg Chigaga - Marrocos - Alexandre Disaro - 11Viver a Viagem - Erg Chigaga - Marrocos - Alexandre Disaro - 12Havia dito à Emily que gostaríamos de comprar tapetes num lugar tradicional. Seguimos para a nossa primeira parada: Taznakht.

A minúscula cidade tem uma cooperativa com mulheres que tecem tapetes. Muitos vendedores de Marraquexe e Fez inclusive compram dali para revendê-los.

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Os tapetes são feitos com pelo de bode e dromedário. O branco e preto são as cores naturais da lã. As demais cores vêm do tingimento com ingredientes naturais. O vermelho vem da papoula, o azul do índigo, o amarelo do açafrão e da casca seca de romã e o verde da hena macerada.

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Nessa cooperativa é possível encontrar os cinco tipos de tapetes que são chamados de tapetes marroquinos: raratine, tuaregue, nômade, berber e outro que não lembro.Viver a Viagem - Erg Chigaga - Marrocos - Alexandre Disaro - 06

Todo tapete tem uma numeração. Cada número corresponde a uma mulher. Quando um tapete é vendido o número é retirado e a mulher que o fez recebe o pagamento.

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Hamid está a frente da cooperativa e sabe tudo sobre tapetes. Tive uma verdadeira aula com ele e pude conhecer os diversos tipos de tapetes com suas matérias primas diferentes, seus usos e padronagens.

De Taznakht continuamos até Foum Zgid, a última cidade habitada antes do deserto.

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Um deserto de pedras nos cercava. Dali em diante, não havia mais cidade alguma; apenas rochas e leitos secos.

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Saber que a maior parte do deserto do Saara é assim, rochosa, é apenas uma informação distante da imagem arenosa que cultivamos; andar por horas em paisagens como essas acima e realmente interiorizar este conhecimento é uma reconstrução do imaginário.

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Pelo caminho, madouars (formações rochosas que parecem mesas) nos cercam.

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Toda essa região já foi fundo oceânico. É muito fácil encontrar fósseis nas pedras espalhadas pelo chão. Você pisa em fósseis a toda hora. Mesmo que lhe ofereçam, deixe os fósseis onde estão. Leve apenas fotos e memórias.

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Repare na foto acima, o que acha que é? É uma flor que é colhida antes de desabrochar e seca para ser usada como palito de dente! Vi muitas para vender em Marraquexe e não havia perguntado para que serviam. Para usar, você destaca um desses caules e palita os dentes. Após o uso, os marroquinos o deixam no canto da boca e o mordiscam para melhorar o hálito.

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E no meio da vastidão árida, por vezes, avistamos oasis escondendo poços artesanais e ruínas de memórias quase esquecidas ou até mesmo nômades ainda habitando os arredores.

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E a paisagem não cansa de se transformar e surpreender. Da vastidão plana e rochosa aos planaltos que se erguem. Do encontro da areia com as rochas à vegetação rasteira e aos oasis. Do lago seco às dunas no horizonte.

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O Yahya e sua família são dessa região. Sua família fora nômade até os anos 70 quando o governo do Marrocos finalizou a construção da represa em Ouarzazate. A obra fez com que o curso do rio Draa fosse extinto e muitos nômades que ali viviam tiveram que se mudar para Mhamid. E mesmo com a drástica mudança, ainda há nômades vivendo no deserto.

No final do ano as comportas da represa são abertas por alguma semanas e parte do rio volta à vida, trazendo alegria e alento. No percurso do rio Draa há muitas tamareiras e Zagora é a cidade mais que produz melancias no país.

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Depois de um dia todo de viagem finalmente chegamos ao acampamento onde passaríamos duas noites e três dias inesquecíveis.

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O sol se põe e a temperatura cai. Hora de comer algo e se esquentar ao redor da fogueira.

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Para a janta tagine de frango com açafrão, azeitonas e limão em conserva. Tagine é o nome tanto para o prato e suas inúmeras combinações quando para a louça de barro na qual é cozido. À exceção da versão vegetariana, o prato é sempre a combinação de um corte de carne com legumes e frutas, podendo ser cozido por até duas horas.

Para acompanhar, harira (uma sopa marroquina), pão e água. Refeição simples e deliciosa à luz da lua e das estrelas.

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Depois do jantar, música berber em volta da fogueira.

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Ficamos numa tenda mais reclusa do acampamento. Não há energia e se você quiser sair precisa levar uma lanterna consigo. O vento balança todos os panos existentes na tenda e a “porta” acompanha a dança. Às vezes abre, às vezes fecha, às vezes chicoteia. Você precisa amarra-la para ficar fechada.

Os primeiros minutos até você se acostumar são diferentes. Imagino que possa ter gente que fique com receio de alguém ou algum animal entrar. Nada vai acontecer, não precisa ficar com medo.

Na manhã seguinte, acordei bem cedinho para ver o sol nascer. Um frio de rachar! O deserto tem uma amplitude térmica muito grande. Durante o dia o sol queima e as temperaturas ficam na casa dos 30ºC; à noite e ao amanhecer facilmente ficam abaixo de 10ºC.

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A primeira visão ao abrir os olhos.
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A água usada no acampamento vem de um poço artesanal.

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Todas as tendas do acampamento são feitas com pelo de dromedário. As três cores são naturais e as padronagens tradicionais.Viver a Viagem - Erg Chigaga - Marrocos - Alexandre Disaro - 50

Nossos primeiros momentos no deserto foram de muito vento, areia na boca e dentro da orelha.

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Até que o Yahya nos presenteou com um shesh (turbante). Adeus queimaduras no pescoço e areia em todos os orifícios do rosto.

Shesh it up!

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Sempre me perguntei por que todo nômade do deserto usava um shesh. Descobri que ele proteje do sol, da areia e é super leve. Sua trama estrategicamente espaçada possibilita que você cubra o rosto por inteiro e consiga ver por onde caminha – experimente passar por uma tempestade de areia sem um. Eles também usam o shesh para pegar objetos quentes e até água de poço (como uma corda para o balde).

Um presente incrível e multi uso!

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De volta à paisagem pedregosa seguimos passeando até avistarmos uma tenda nômade. Era a tenda do Seu Ali.

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Ele nasceu e viveu a vida toda no deserto. Vive com sua mulher e três filhos. Demos sorte que eles se instalaram alí há poucas horas. Diz ele que por causa do rali os carros e motos levantaram muita poeira e eles tiveram que mudar o lugar da tenda. De foto, cruzamos com motos.

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Seu Ali buscou água do poço artesanal e sua mulher nos fez um chá berber. Diferente do chá marroquino com hortelã, esse além das folhas de chá levava a seiva da acácia. A seiva engrossa o chá, confere um gosto de resina adocicada e uma leve adstringência, além de produzir uma espuma mais densa e alta.

Viver a Viagem - Erg Chigaga - Marrocos - Alexandre Disaro - 63A espuma do chá também se chama shesh (turbante) e serve para proteger o chá de sujeira ou insetos. Se algo cai no chá é muito mais fácil de retirar da espuma do que meter o dedo no líquido.

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A acácia é uma das árvores endêmicas da região e produz esta seiva que é incorporada ao chá.Viver a Viagem - Erg Chigaga - Marrocos - Alexandre Disaro - 61

Fiquei impressionado e não cabia dentro de mim de tanta alegria por poder encontrar gente de verdade ainda morando no deserto como nômade.

A simplicidade se via em todos os cantos, assim como o espírito acolhedor dos marroquinos.

Viver a Viagem - Erg Chigaga - Marrocos - Alexandre Disaro - 66Obviamente que eu não entendia a conversa entre eles pois falavam em berber. Consegui arriscar meu árabe marroquino e descobrir que a tenda do Seu Ali havia sido um presente de alguém do Catar e que ele (o Ali) tinha 56 anos.

Ficamos na tenda por mais de 40 minutos. Eu observava a alegria deles em nos receber. Imagino que, de certa forma, a ajuda que o turismo traz é um alento para essa vida dura de muita dificuldade no deserto.

Algo muito especial me tocou. Sou/era conhecido por ser mão de vaca e individualista. A cultura marroquina me mostrou como tudo é para ser compartilhado e como você se doa sem esperar algo em troca. Além disso, estar com eles me mostrou gente que pouco tem e muito dá de si.

Viver a Viagem - Erg Chigaga - Marrocos - Alexandre Disaro - 64Como se não bastasse um encontro desses, o Yahya havia nos preparado mais uma surpresa. Essa eu realmente não imaginava.

Depois de mais algumas horas de carro pelo deserto chegamos ao leito seco do rio Draa para um piquenique.

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Yahya montou uma fogueira incrementada, que mais parecia um fogão com duas bocas! Cavou um buraco, distribuiu pedras, catou galhos e folhas secas. Acendeu o fogo e começou a fazer um tipo de tagine com carne de bode, legumes e especiarias.Viver a Viagem - Erg Chigaga - Marrocos - Alexandre Disaro - 77

Enquanto o prato era cozido, preparou um chá com seiva de acácia bem especial para nós quatro, e nos explicou o ritual de preparação.

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Esse tipo de ritual é feito quando a família precisa resolver algo. De maneira lenta, é feito apenas um copo para cada pessoa por vez. No total são três rodadas.

A primeira, é para ser tomada para se discutir os problemas. O chá da primeira infusão é forte e mais amargo. “Amargo e duro como os problemas” diz Yahya.

Na segunda, o chá já está mais fraco e a doçura predomina o amargor. É o chá da paixão, da reconciliação e da resolução dos problemas.

A terceira e última rodada é o chá do amor. A infusão já está super leve e a bebida bem doce. É o chá da perpetuação da alegria.

Para brindar este momento b’saha! – à sua saúde em árabe marroquino.

Logo após as rodadas de chá Bashir tira uma travessa, farinha, água e começa a sovar uma massa no meio do deserto. Fiquei bem curioso para saber como essa massa seria cozida.

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Contudo, antes de tomarmos o chá ele já havia acendido uma fogueira no leito do rio e a deixou queimar por um tempão. O que eu não sabia é que ele estava transformando a porção de areia num forno!! O fogo queimou por um bom tempo e esquentou muito toda a região.

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Em seguida, abriu a massa e a jogou nas cinzas! A alta temperatura selou imediatamente a superfície a massa, impedindo que grãos de areia entrassem no pão durante o cozimento.

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Depois de alguns minutos ele retirou o pão “do forno”, bateu e raspou as bordas de leve. Pão fresco cozido nas areias de um rio seco, usando apenas ingredientes e materiais que a natureza fornece.

Fiquei boquiaberto.

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Ainda evidenciando a engenhosidade no povo nômade, essa árvore que envolve o Bashir na foto tem folhas salgadas. Até um tempo atrás os nômades utilizavam suas folhas como substituto do sal, macerando e acrescentando à comida! As folhas também eram dadas aos dromedários durante paradas estratégicas para fazê-los beber bastante água.

Depois do almoço cruzamos o rio e avistamos uma casa de barro. Essa foi a casa dos pais do Yahya e onde ele passou parte da infância.

Yahya também me contou que quando seu pai sente saudade do deserto ele o traz exatamente para onde estávamos e cozinha algo para ele.

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Hoje restam apenas ruínas e as memórias dele e do pai, que ainda fazem piquenique à beira rio para entrar em contato com o deserto e o passado.

Não tem como precificar um momento tão especial como esse. Que privilégio.

Juro que quase chorei.

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Ainda estávamos por lá quando uma tempestade de areia e chuva nos pegou de surpresa. Foi estranho estar num lugar tão árido e receber rajadas de ventos gélidos com muita areia, acompanhadas de chuva de uma hora para outra. Há duas horas fazia um sol de rachar e o céu estava limpo.

A primeira chuva do ano ou de sei lá quantos anos!Viver a Viagem - Erg Chigaga - Marrocos - Alexandre Disaro - 90

De volta ao acampamento e após a tempestade resolvemos andar de dromedário.

Sou contra o turismo explorando animais, mas topei andar por alguns motivos: a baixa no turismo no Marrocos faz com que as pessoas que dependem do turismo não tenham trabalho, éramos os únicos a andar de dromedário; estávamos no deserto mais inóspito, consequentemente os dromedários faziam menos passeios e se irritavam menos.

Andamos até a base da duna mais alta do Chigaga, com mais de 130 m.

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E subimos esbaforidos.Viver a Viagem - Erg Chigaga - Marrocos - Alexandre Disaro - 97Viver a Viagem - Erg Chigaga - Marrocos - Alexandre Disaro - 99

Momento inesquecível. Ao final de um dia incrível Bashir não escondia o cansaço no olhar. Sentados, ficamos observando o mar de arei a se perder no horizonte.

Nossa aventura no erg Chigaga estava acabando.

No dia seguinte, levantamos cedo e pegamos a estrada rumo a Mhamid. Lembra que comentei sobre os nômades do deserto que tiveram que se realocar com a construção da represa? Pois então, grande parte foi para essa cidade.

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Mhamid é muito simples, mas tem algo extremamente fascinante. Da viagem toda, foi a cidade que me pareceu mais intocada pelo passar do tempo. Caminhar pela única rua da cidade é como entrar num cenário do Indiana Jones.Viver a Viagem - Erg Chigaga - Marrocos - Alexandre Disaro - 117Viver a Viagem - Erg Chigaga - Marrocos - Alexandre Disaro - 113

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Na cidade cruzamos com muitas mulheres com roupas tradicionais lindas. Véus pretos com bordados em cores vívidas denotando a tribo a qual pertencem.

Por falar em mulher, é extremamente difícil fotografá-las nesta região do país.

De acordo com a cultura local, a fotografia rouba a alma das pessoas. Tanto homens quanto mulheres não gostam de ser fotografados.

O Marrocos é um ótimo lugar para se testar suas habilidades como retratista. Ou você pede permissão e trabalha na persuasão ou você rouba a foto. Ambos são desafiadores, até porque quando você rouba uma foto eles se sentem desrespeitados. Acho que a energia do momento está impressa na foto.

Seja discreto e haja como um paparazzi para não registrar momentos de irritação ou causar desrespeito.

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Em Mhamid fomos conhecer o ksar (cidadela de barro) que dá nome à cidade. A estrutura existe há séculos.Viver a Viagem - Erg Chigaga - Marrocos - Alexandre Disaro - 119

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E pausa para mais um chá. Desta vez dentro do ksar de Mhamid. Lembra do shesh comprido? Serve também para não se queimar e segurar objetos.

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Os materiais de alvenaria ainda não são muito utilizados em cidades pequenas. Tijolos de barro e palha de tamareira são onipresentes.

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Prato local de rim e fígado de bode, com limão em conserva, pimenta, tomates e azeitonas.

Pensa em alguém que não suporta miúdos tendo o prato como a única refeição do dia! Comi. Experiência boa para trabalhar o gosto adquirido.

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A última Coca do deserto.

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Última parada, uma cooperativa de cerâmica em Tamagroute. A cerâmica desta cidade é conhecida por todo o Marrocos por ter o verde característico do islã. Nada melhor do que ir até a fonte para comprar pelo melhor preço.

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Por ser uma cerâmica bem conhecida imaginei uma estrutura grande para fabricação das peças. Para a minha surpresa é bem diferente. Na cooperativa familiar cada um tem sua casinha germinada onde fazem seus objetos. Não há energia elétrica tampouco água encanada.

Consegue ver esses buracos no chão? É onde o barro é misturado, formando o chocolate.

Tudo é bem rudimentar. É encantador ver como do nada eles criam coisas tão bonitas.

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Dentro de cada casinha há um torno manual.

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Assim que a peça fica pronta ela é deixada para secar antes de passar pela primeira queima. Assim que a peça é queimada, ela recebe um banho com o esmalte – esse contém um mineral típico da região que resulta no verde do islã – e passa pela segunda queima, resultando o aspecto vitrificado e impermeabilização da peça.

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Tigela que compramos.

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Depois dessa parada seguimos para Skoura, um dos maiores palmeirais do Marrocos.

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Enfrentamos a primeira chuva do ano na região, tempestades de areia e um frio de rachar! Isso tudo pois havia chegado uma frente fria em muitas partes do país. Inclusive, essa frente trouxe neve fresca para os Atlas (cadeia de montanhas que corta o Marrocos). Se tivéssemos partido um dia depois provavelmente não teríamos chegado a Skoura pois a passagem da montanha fechou por causa da neve.

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Esses três dias foram mágicos. Encontrei um deserto muito colorido e rico em diversidade.

Dessa vivência levo o sorriso de um povo genuinamente contente em nos receber; a bondade de quem acolhe com o coração; a generosidade de gente que mesmo com muito pouco, muito oferece; o talento de gente que cria coisas belíssimas com pouquíssimas ferramentas; a inventividade e resiliência de gente que tira o sustento de onde aparentemente não vemos nada.

Gente que cruza seu caminho e muda sua vida para sempre.

Uma aventura transformadora.

Se for ao Marrocos não deixe de fazer essa aventura pelo Erg Chigaga. O Wild Morocco consegue fazer praticamente qualquer roteiro que você tenha em mente envolvendo o deserto.

Quem é a Wild Morocco?

Sabe por que o Wild Morocco proporciona aventuras transformadoras? Pois eles surgiram de uma transformação pessoal.

Especializados no erg Chigaga eles são o resultado do sonho de uma inglesa e de um marroquino de família nômade.

A Emily trabalhava em Londres e estava cansada da vida corporativa. Certa vez, visitou o Marrocos para fazer uma caminhada e se encantou pelo país. Foi quando conheceu Yahya, um marroquino que trabalhava com turismo e juntos montaram a Wild Morocco; uma agência especializada no Erg Chigaga e focada no turismo de experiências.

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Através da realização pessoal de seus sonhos, eles realizam o sonho de muitos viajantes proporcionando uma oportunidade impar de explorar o Saara.

Está de malas prontas para o Marrocos e quer conhecer o Erg Chigaga? Entre em contato com a Emily do Wild Morocco, diga que você conheceu o trabalho deles no Viver a Viagem e ganhe uma gandora e um shesh. Posso lhe garantir que além de um presente super legal e tradicional é muito útil.

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About the author

Sou fotógrafo, moro em São Paulo e já estive em 16 países. O Viver a Viagem é meu projeto pessoal e vai além de dicas triviais; quero proporcionar uma imersão cultural e ajudar você a viajar com um olhar diferente.