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Skoura, Sidi Flah e a rota dos mil kasbahs

Skoura, Sidi Flah e a rota dos mil kasbahs

Marrocos

Que tal conhecer um dos maiores palmeirais e concentrações de kasbahs do Marrocos em Skoura; e ainda experimentar a hospitalidade berber em Sidi Flah, um vilarejo ainda intocado pelo turismo? O Viver a Viagem viveu isso e divide tudo com você!

Após uma aventura transformadora pelo deserto de Erg Chigaga e antes de chegar ao deserto de Erg Chebbi, sabia que passaria pela estrada que margeava o rio Dades. Essa região é conhecida como parte da rota dos 1000 kasbahs – um palacete ou fortificação típica da região, feito de barro e palha, e com no mínimo quatro torres.

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Leia também o post Ait Benhaddou – um tesouro marroquino e conheça um dos mais bem preservados kasbahs do Marrocos.

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Rota dos 1000 kasbahs em vermelho[1]

Eu precisava parar em alguma cidade dessa rota e dormir num kasbah.

Muitas pessoas, de fato, passam por essa rota no caminho para o deserto de Erg Chebbi. Porém, poucas realmente param em alguma cidade para ficar mais de um dia e conhecer os arredores. Muito ouvi sobre a hospitalidade berber e quis fazer diferente. Afinal, essa era a rota dos 1000 kasbahs!

Resolvi passar dois dias no Dar Essalam, um kasbah de 200 anos em Skoura.

Skoura

Ofuscada por Ouarzazate como ponto de apoio na região e ainda assim não tão distante de Merzouga – a porta de entrada para o deserto de Erg Chebbbi – Skoura passa despercebida.

Repare no mapa abaixo. Cada quadradinho[2] corresponde a um kasbah. Você precisa apenas sair da rua principal e se aventurar pelo palmeiral para encontrá-los.

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Assim que cheguei em Skoura conheci Lahcine e Tarik, dois primos que restauraram o kasbah da família com mais de 200 anos onde hoje o operam como o hotel Dar Essalam.

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Lahcine à esquerda e Tarik à direita

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O kasbah em ruinas antes da restauração

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Lahcine e Tarik à frente do Dar Essalam em sua melhor forma desde a restauração

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O kasbah fora restaurado usando materiais tradicionais e encontrados na região. Barro, palha, tronco de tamareira e um tipo de bambu

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Skoura é especial. Assim que você adentra o palmeiral – são mais de 25 km quadrados – há muitos kasbahs em diferentes estados de preservação. Muitos ruindo como castelos de areia e mesmo assim com pessoas morando dentro. O palmeiral é cortado por um rio, o que torna a terra fértil.

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Multiplique a cena por uma cidade toda. Todas as ruas e casas são desse jeito. Parece uma cidade cenográfica, só que de verdade e inexplorada

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Neve fresca, recém caída cobrindo os Atlas

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Por do sol visto de cima do kasbah

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Cuscuz de frango com legumes para o jantar

Há muitas pessoas vivendo da agricultura na região e é comum encontrar homens e mulheres colhendo hortaliças. Há muitas tamareiras e oliveiras. Em Skoura foi o lugar onde encontrei os olhares mais carinhosos e curiosos para o turista branquelo encantado por tudo e todos.

No dia seguinte, Lahcine nos explicou como chegar a Sidi Flah para visitar a garganta do rio Dades.

Não era muito longe dali e poderíamos viver uma experiência real de hospitalidade berber. O vilarejo é tão intocado pelo turismo que desconhecia a energia elétrica até 2001 e a Coca Cola até 2009.

Percebendo nossa cara de interrogação quanto ao precário transporte público da região, resolveu nos levar.

Sidi Flah

Conversando com ele, descobri que Sidi Flah na verdade é onde nasceu e  morou a vida toda.

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No caminho, paramos num oasis à beira do rio Dades com muitas plantações. Lahcine contou que a comunidade nômade da cidade resolveu se instalar alí há alguns séculos após achar no rio uma fonte contínua de água.

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Caminhando pelo oasis chegamos à beira rio e ele quis mostrar onde brincava quando criança. Subindo barrancos tão íngremes quando este da direita na foto, nos equilibramos com máquina e tripé, correndo atrás de Lahcine que parecia conhecer cada pedra do leito e estava bem a nossa frente.

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E no meio do caminho um morro todo pontilhado. Nela havia um homem a conduzir seu rebanho de cabras. Nos aproximamos e por coincidência era o tio de Lahcine! Conversamos um pouco com o seu tio. Parecia um momento de documentário da National Geographic.

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Fiquei impressionado em ver como cada animal fazia um som diferente. De longe pareciam todos iguais, apenas com cores diferentes. O tio de Lahcine se divertiu em ver nossas caras impressionadas ao chamar cada animal com um barulho diferente. E o mias impressionante é que cada um olhava para ele na hora certa e no som certo.

Uma cena de séculos atrás se repetindo nos dias de hoje, diante dos meus olhos.

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As cabras, bodes e cordeiros são um bem valioso e vital para a vida dos nômades. Funcionam como moeda de troca, fonte de renda, dotes e comida.

Por falar em comida, já havia passado a hora do almoço e estávamos famintos. Lahcine então nos levou para a cidade, onde conhecemos sua mãe Fatima.

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É muito comum as mulheres marroquinas terem suas mãos tingidas de laranja e marrom claro. O açafrão usado todo dia na comida é também usado para tingir tecidos e lã. Seu pigmento é forte e tinge praticamente tudo que encosta.

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Sua mãe não escondia a marca de anos de cozinha, seus dedos e unhas tingidos pelo açafrão com muito carinho nos serviu chá de hortelã e nos preparou um delicioso omelete berber. Como em qualquer lugar no Marrocos, usamos os pães como talheres e almoçamos ao som do Alcorão na fita K7.

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Além de conversar com sua mãe, pudemos conhecer um pouco de como uma casa marroquina funciona. Em cada casa há um patio central onde a família socializa e recebe convidados. Neste pátio, é também onde as família têm seu poço artesanal, de onde coletem a água e a estocam em ânforas para o consumo diário.

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Logo depois, feliz com a nossa visita fez questão de mostrar sua horta e seu curral, com galinhas e coelhos.

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Desvie a rota, não tenha medo de conhecer destinos fora dos guias de viagem. Não tenha vergonha de falar com as pessoas. Lembranças, histórias, novos amigos e momentos únicos são os melhores souvenirs de uma viagem.

Não importa onde você vá são as pessoas que fazem o lugar

Hospede-se no Dar Essalam

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Como chegar

O ponto de partida mais fácil para se chegar a Skoura é a cidade de Ouarzazate. Para saber como chegar até lá, leia o post Ait Benhaddou – um tesouro marroquino e escolha a opção que lhe for mais conveniente.

De carro

Saindo de Ouarzazate siga a rodovia N10 em direção a Tinghir. Skoura fica no caminho; não há como errar.

Se estiver indo com uma agência de turismo ou motorista particular, sugiro fazer uma parada e aproveitar a região. Tive uma experiência fantástica com a Wild Morocco explorando o deserto de Erg Chigaga – veja como foi esta incrível aventura em Erg Chigaga – expedição ao deserto. No final, Yahaya o motorista/amigo/tradutor/guia nos deixou no hotel de Skoura.

Ônibus

Partindo de Ouarzazate, pegue um ônibus da companhia CTM em direção a Tinghir e salte em Skoura.

Grand taxi

Os grand taxis são carros compartilhados que fazem viagens intermunicipais. Geralmente ficam todos concentrados em alguma praça e você só precisa achar o carro certo. Você ou paga por lugar e espera a lotação completar ou paga por todos os lugares e sai com o carro só para você. Um carro leva seis pessoas além do motorista. Se você não se importa em andar espremido como numa lata de sardinha, pode ser uma opção mais barata que o ônibus – que por sinal já é barato.

Referências e Notas Explicativas[+]

About the author

Sou fotógrafo, moro em São Paulo e já estive em 16 países. O Viver a Viagem é meu projeto pessoal e vai além de dicas triviais; quero proporcionar uma imersão cultural e ajudar você a viajar com um olhar diferente.